Viajar para o Brasil, depois de um tempo vivendo fora, é quase como continuar um filme que tinha ficado em pausa. As pessoas, os lugares e até as pequenas rotinas que faziam parte do nosso cotidiano parecem estar ali, esperando que voltemos a nos encaixar, que pressionemos o “play” novamente.
Encontrar pessoas com quem convivíamos tanto no passado pode fazer com que voltemos a um padrão de comportamento que já havíamos esquecido. Muitas vezes, é como se, ao nos reconectarmos com antigos conhecidos, nos ajustássemos automaticamente a uma versão antiga de nós mesmos – a pessoa que éramos antes de a migração ter desafiado nossas crenças, hábitos e perspectivas. Esse retorno temporário ao nosso “eu” passado pode ser tanto confortável quanto incômodo, trazendo à tona sentimentos que achávamos ter deixado para trás.
Por outro lado, quando algumas conhecidos ainda nos veem e tratam da mesma maneira de antes, esperando que nos comportemos exatamente como a versão antiga de nós mesmos, pode surgir uma sensação de estranhamento. É como se elas não reconhecessem as mudanças que vivemos e insistissem em nos conectar a uma parte de nós que agora só existe na lembrança delas.
Além disso, alguns reencontros podem funcionar como gatilhos. Encontrar pessoas que estão ligadas a partes da nossa vida que preferimos deixar para trás pode despertar emoções e padrões antigos. É possível que revivamos inseguranças, desentendimentos ou aspectos da nossa personalidade que foram modificados com o tempo. Essas interações podem nos fazer confrontar partes de nós mesmos que pensávamos estar resolvidas.
Mesmo que tenhamos mudado, a sensação de continuidade, familiaridade e pertencimento podem ser reconfortantes. Quando nos deparamos com o nosso “antigo eu”, temos a chance de avaliar o quanto avançamos desde que saímos. Essas visitas, então, acabam se tornando uma oportunidade de autoconhecimento, já que podemos refletir sobre como evoluímos e sobre o que essas experiências significam para nós.