Cheguei à Alemanha com a minha família no inverno, há quase 10 anos, com roupas que não eram adequadas. Eu não conhecia o vestuário apropriado e não entendia aquelas calças de plástico com suspensórios que as crianças usavam. Não sabia nada sobre como dirigir no gelo, raspar a neve do carro, ventilar a casa nem desentupir aquecedores.
É difícil cair de paraquedas numa realidade tão distante da qual estamos acostumados. Eu me sentia perdida por não conhecer as coisas mais básicas que os nativos conheciam porque foram ensinados desde pequenos por pessoas que também foram ensinadas desde pequenas.
Aceitar essa ignorância inicial não é fácil, e se acostumar com a neve (e com todo o resto) também leva tempo. Mas a gente se adapta, improvisa soluções e, depois de muito passar aperto, ganha uma segunda pele que nos protege mais do que qualquer outra: o conhecimento.
Para quem é migrante, entender os costumes locais e as normas sociais é um aprendizado constante. Essa experiência, que vai bem além da adaptação ao clima, é uma parte tanto enriquecedora quanto desafiadora da história de quem passa pela difícil tarefa de chamar de casa aquilo que é tão diferente do que um dia já foi seu lar.