Se filhos não vêm com manual de instruções, ser mãe imigrante é se sentir duplamente perdida.
É enfrentar o desconhecido junto com os nossos filhos, mas compreender que só podemos acompanhá-los até certo ponto.
É querer transmitir nossa cultura, sabendo que nossos costumes só funcionam dentro de uma bolha, e que o mundo fora dela é bem diferente.
É construir nossa rede de apoio do zero e ter que alinhar expectativas mil vezes.
É se sentir deslocada porque a nossa infância foi muito diferente e nada do que conhecemos se aplica, e então ter que buscar novas referências até para as coisas mais simples.
É não conseguir se comunicar direito com os professores dos filhos nem participar tanto quanto gostaríamos da vida escolar deles quando não entendemos bem nem o idioma nem o sistema educacional.
É enfrentar discriminação e o coração doer, sabendo que eles também vão passar por isso.
É saber que eles vão perder festas e outros momentos importantes ao lado da família, e que a família também vai perder muito da vida deles.
Ser mãe imigrante é uma batalha constante contra a culpa quando tentamos nos convencer de que estamos fazendo o que acreditamos ser o melhor para nossos filhos, mesmo que isso signifique privá-los de uma infância próxima aos entes queridos.
É vê-los se transformando em um pouquinho de nós e um pouquinho do outro, e isso assustar e fascinar ao mesmo tempo.
É aceitar que eles vão seguir seu próprio caminho, totalmente diferente do nosso, desbravando um mundo desconhecido – principalmente para nós.
É levar tombo atrás de tombo e se levantar depois de cada um deles. Pelos nossos filhos, quantas vezes forem necessárias, em qualquer lugar do universo.