Quando ser imigrante invisibiliza nossas competências

Duvidariam da nossa capacidade se não soubessem que somos imigrantes? E se não tivéssemos sotaque?

Não acho que, quando a gente pega nossas malas e resolve emigrar, tem noção de como vai ter que se provar no novo país. Podemos ter as melhores competências ou experiências de vida riquíssimas, mas o preconceito aparece sutilmente. Às vezes é uma dúvida lançada no ar ou um comentário disfarçado de curiosidade e que carrega um julgamento. E aí a gente se pergunta: será que diriam isso se fosse eu fosse daqui?

Ser imigrante em um idioma que não dominamos completamente é estar sempre se esforçando para mostrar nosso valor apesar dos erros gramaticais. É tentar ser levada a sério e dizer coisas importantes mesmo quando nosso vocabulário é restrito. É lidar com o medo de ser subestimada porque hesitou antes de completar uma frase. É ter que se esforçar o dobro para ser ouvida, e ainda assim ser tratada como se soubesse menos. É temer conflitos pelo fato de não saber se defender.

Como migrantes em um idioma que não é o nosso, precisamos interagir, trabalhar e nos virar como dá. Mas às vezes basta um erro de gramática, uma palavra trocada ou uma pausa a mais, que o julgamento vem e tenta nos tornar menos do que somos. Como se errar um artigo desqualificasse o que somos e o que construímos, ou determinasse até onde podemos ir.

Existem histórias demais de profissionais experientes que, ao migrarem, acabaram em funções que exigem muito menos do que são capazes de oferecer, e ainda por cima precisam lidar com um tom condescendente, recebendo olhares de surpresa quando fazem algo bem feito.

Falar um idioma estrangeiro é uma conquista imensa, mas isso não torna mais leve o fato de que, muitas vezes, a profundidade do que se pensa não cabe nas palavras disponíveis. Também não significa que nosso esforço vá ser retribuído com respeito.

É sobre aquele meme que roda pelas redes e que diz: “ninguém nunca vai saber o quanto sou inteligente no meu idioma”. Mas pouca gente fala sobre o quanto é cansativo ter que se provar o tempo todo, mesmo quando sabemos que somos mais do que o suficiente.